A maioria dos e-mails que recebo são pedidos de ajuda em trabalhos escolares, pedidos de avaliação de artes digitais e pessoas corrigindo meu português falho. Ocasionalmente recebo um e-mail interessante que me faz parar e pensar.
Um leitor do Design Blog, Joel Gouveia, foi o autor de um destes e-mails. Resumidamente, ele escreveu:
Fazendo analogia com aplicativos e tb uma analise de mercado – os programadores estão dominando. Será q amanhã, que já é hoje, terei q aprender tb java e objective c para me manter respirando no mercado? Será q não devo me tornar um programador q tem (por coincidência) habilitação visual para poder sobreviver?
É um assunto complicado e impossível de chegar a uma conclusão concreta. O mundo está constantemente mudando e o design não ficará fora disto.
Empresas possuem impressoras multi-funcionais que fazem cópia, escaneiam, enviam direto por e-mail e muitas vezes também imprimem. Estas empresas dão smartphones aos seus funcionários para que eles possam verificar o e-mail no final de semana, acessar a intranet da empresa, enviar SMS informando aos seus colegas sobre a reunião de emergência…ah, e que fazem ligações também.
Os donos de empresas acabam pensando “Se meu celular pode ser multi-funcional, por que meu funcionário não pode ser também?“. Aí que entra o designer que é programador, arte finalista, técnico de informática, illustrador e fazedor de café.
As empresas dizem “sim”. Eu digo…bom, já chego lá.
É inegável dizer que quanto mais você souber, maior será sua área de atuação e maior as chances de ser contratado por diferentes ramos. É a lógica. Mas isto não quer dizer que você será um expert em todas estas áreas. Basta ver 5 minutos de um programa da Discovery Channel. Você não vai ver uma entrevista com um expert na área de astronomia, astrofísica, física quântica e física teórica. A pessoa vai ser expert em uma só área.
Acontece que quando você é expert em uma área, você já toma um tempo X do seu dia para ficar informado sobre aquele assunto. Se você também é um profissional renomeado de outra área, você vai tomar um tempo Y para estudar sobre aquilo. Eventualmente você será nada mais que um expert em conhecimento e não terá tempo para trabalhar de verdade.
O Joel continua:
Vim do gráfico e hoje também estou na web com meu xhtml/css da vida. E já vi diversos amigos perderem vagas por que não sabem nada de web. E há coisas absurdas. Já vi vaga em que o empregador queria um gráfico/web/programador (php, banco de dados, etc) tudo por 1 salário mínimo. E o tempo que o cara levou para aprender nem é considerado.
Ou seja, as empresas preferem um funcionário multi-funcional. Ok. Mas você conhece uma impressora multi-funcional que faz tudo perfeitamente bem? Imprime, copia, manda fax e é wireless sem problema algum? Sempre existe algo em uma destas máquinas onde ela peca na qualidade ou na facilidade. E quando é algo que faz tudo isto e ainda gasta pouca tinta, ela é absurdamente cara. Por que na nossa profissão não seria diferente?
A resposta é simples: os profissionais medíocres que se vendem como experts. Eu já conheci programadores ótimos que são péssimos designers, assim como designers que desenham um site lindo mas cujo o CSS seja mediano. Eu sei que meu PHP ainda é aceitável, mas longe de ser algo que alguém que passou a vida inteira apenas estudando isto saberia.
No entanto, dizer que toda empresa prefere funcionários multi-funcionais é um erro. Basta olhar as gigantes do mercado. O Jonathan Ive da Apple é um excelente designer industrial, mas não é lá um designer gráfico ou web designer muito bom. O Everaldo Coelho é um designer visual do c#$%@, mas não conseguiria programar um aplicativo para iPhone. E por que eles são incríveis nas áreas deles? Por que eles passam tempo estudando aquilo que eles fazem bem.
O Joel termina com duas perguntas:
Teremos sempre que correr atrás e acabar virando um faz tudo? Será que é mais interessante virar um ________ (preencha com o que lhe vier à mente) com habilitação visual?
Minha resposta: não e não. Se virarmos um faz-tudo, a qualidade do nosso trabalho vai invariavelmente cair. Você não pode ser um expert em várias áreas sem 1) enlouquecer ou 2) virar um expert em conhecimento. O mercado que não reconhece isto vai continuar contratando profissionais medíocres ou medianos que podem até fazer mil coisas, mas não fazem mil coisas bem feitas. A qualidade do trabalho vai decair e o mercado do design vai por água abaixo.
Minha dica final é: se você é um designer e faz programação, cobre de acordo. São duas profissões, então valem pelo menos (pelo menos!) dois salários mínimos. Se uma empresa se recusa a contratar você por este valor, esqueça ela. Eu não trabalharia em um navio que não tem coletes salva-vidas e que vai navegar por mares bravos com uma tripulação despreparada. Deixe aquela empresa afundar sozinha.
Qual a sua opinião? Você acha certo as empresas quererem funcionários que fazem tudo e pagam pouco? Você acha que o designer que não for expert em várias áreas vai ter sucesso na vida?
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