sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Como cobrar R$ 100,00 por um logo

No artigo passado sobre o WeDoLogos e #porraglobonews, vários comentários perguntavam sobre como agir perante microempresas: cobramos nosso valor padrão (que pode ser demais pra eles) ou damos um jeitinho? A minha sugestão é simples: aprenda a escolher seus clientes.

logos-por-apenas-r-100

Muita gente apontou que algumas associações de designer gráficos recomendam cobrar de R$ 500 a R$ 2.000 por uma identidade visual. Até mesmo o valor mais baixo pode ser muito para uma microempresa que está iniciando no mercado; empresa que ainda tem que alugar um escritório, fazer toda a papelada para estar legalmente cadastrado na junta comercial, contratar contador, comprar equipamentos para seu negócio, contratar funcionários e ainda ter uma grana de reserva sabendo que ele pode ficar ainda alguns meses sem lucrar.

Nos comentários, Sidney escreveu:

A própria abcDesign publicou em seu encarte especial da Brasil Design Week 2009 que segundo o BNDES “as MPESn (Micro e Pequenas Empresas), representam 97% dos negócios brasileiros”, e mais segundo o Edson Fermann do Sebrae Nacional (nesse mesmo encarte) “Se o design entrar no DNA de 5% delas, ou seja, mais ou menos 280 mil, vai faltar escritório”. Então (voltou a pergunta) o que nós designers estamos fazendo para alcançar esse nicho?

De fato, uma empresa que vê a necessidade de ter algum tipo de identidade visual vai querer procurar o mais barato possível. As empresas nem sempre tem noção da importância de uma identidade visual – e convenhamos, nem sempre é importante. Sim, pasme, falei isto! Nem toda empresa precisa de uma identidade visual.

Qual empresa não precisa de uma identidade visual?

Para citar um caso apontado nos comentários pelo Ronan:

Assim com li na abcDesign (…), tem clientes no mercados que o designer não vai querer atender. Quais clientes são estes? A Do’Maria que abriu sua mercearia e precisa apenas de um logo para criar uma placa luminosa na fachada, e não pode gastar mais que 100 reais no pagamento. Como o profissional deve se portar em uma situação como esta? Aceitar ou não aceitar o trabalho tendo em vista o pagamento simbólico e a necessidade (mínima) da Do’Maria?

Ela de fato não vai precisar de uma identidade visual bem elaborada. Ela não vai fazer flyers, não vai abrir um site, não precisa fazer uniforme para o único funcionário dela, etc. Ela não pretende fazer da mercearia dela uma franquia, expandir para sete outros estados do Brasil e eventualmente tornar-se uma franquia internacional. Ela só quer abrir sua mercearia de bairro.Ela precisa de uma identidade visual de R$ 500? Não.

Como foi dito, existem maneiras diversas de tratar o caso da Dona Maria quando ela entrar em contato e pedir um logo, avisando que possui um orçamento de R$ 100:

1) Fazer algo simples, que não atenda perfeitamente a todas as necessidades dela;
2) Fazer algo estonteante, como se ela estivesse pagando os R$ 500;
3) Rejeitar o trabalho, fazendo com que ela tenha que se virar com um micreiro;
4) Fazer micreiragem – ou seja, um trabalho “nas coxas”, porco e sem gastar quase nada do seu tempo.

Além destas, existe a possibilidade de facilitar o pagamento ou trocar por outra coisa; ela não consegue pagar os R$ 500? E se você fizer em 5x? Ou até mais? E se você trocar o serviço por R$ 250 em créditos na mercearia? Que tal patrocinar a mercearia; você faz o logo de graça e em compensação pode colocar um banner seu ou deixar cartões de visitas do lado do caixa?

Existem mil maneiras de contornar um job destes. Afinal de contas, o design precisa ser também uma profissão com consciência social. Precisamos ajudar a melhorar o mercado, mesmo que isto signifique sacrificar algumas horas em um logo que não vai te cobrir os custos mais básicos.

Se a mercearia da Dona Maria ter uma placa luminosa com um logo bacana, quando outra empresa for se instalar na região (e já tem planos de crescimento) eles vão pensar duas vezes antes de colocar uma placa amadora à disposição; afinal de contas, ninguém quer ficar com uma aparência amadora num bairro que conhece um trabalho bom, não é?

Logo da Mercearia Dona Maria

Eu teria cobrado R$ 100 só pra ela não usar um clipart e Comic Sans.

Você quer que eu trabalhe de graça?

Se você entendeu isto, você não entendeu direito. A mercearia da Dona Maria é uma exceção. Estou falando de uma microempresa que não vai depender em ter um visual legal para sobreviver. É uma empresa que só vai atuar no seu bairro, vai sempre ser pequena e não tem o objetivo de crescer mais do que isto.

Minhas sugestões são unicamente para empresas que, de fato, não tem os R$ 500 a R$ 2.000 para investir numa identidade visual – não as empresas que NÃO QUEREM pagar mais de R$ 500.

Não digo para você focar apenas em empresas que só podem pagar um valor abaixo do seu custo; faça estas concessões a empresas que realmente precisem delas.

Pare de reclamar e faça algo!

Queremos mudar o mercado e mostrar a importância do design, sempre citando empresas como Apple, Coca-Cola, Lucky Strike, etc e esquecendo das empresas que realmente movem o país: as pequenas e micro empresas. Como podemos esperar que o design evolua a algo importante se a gente não demonstrar isso dando o braço a torcer em alguns casos?

Em vez de ficar reclamando que estamos perdendo lugar aos micreiros, saiba escolher melhor as suas batalhas: o logo da mercearia pode te render trabalhos melhores no futuro, ou até mesmo algum prêmio social (e consequentemente, exposição no mercado).

O que você pretende fazer para melhorar o mercado do design no Brasil? O que você sugere que todos devemos fazer? Comente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário